17 abr 2013

A Formação dos Educadores em ONGs: o papel do coordenador pedagógico

1 comentário

As Oficinas de Sistematização da Prática Educativa CASA7 foram realizadas no período de julho a dezembro de 2012, dirigidas a 21 coordenadores pedagógicos (e convidados) que representaram 14 organizações sociais de Recife – PE. As oficinas tiveram o intuito de oferecer subsídios e instrumentos para apoiar processos de reflexão permanente sobre a prática educativa, buscando:

  • Debater a importância da incorporação de uma cultura de aprendizagem como forma de aprimorar a prática educativa.
  • Discutir a sistematização de experiências como um dispositivo de aprendizagem.
  • Exercitar as etapas da sistematização de experiências.
  • Produzir/socializar textos de autoria dos coordenadores/educadores como referência para organizações parceiras.

ORGANIZAÇÕES PARTICIPANTES

NOME

Aldeias Infantis SOS Brasil Manoel Antunes Souza de Araújo
Simonise José da Silva
Associação Cultural Esportiva Social Amigos (ACESA) Fábio Rogério R. da Silva
Mayara Ferreira de Barros
Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AACA) Daniel José da Silva Gregório
Auçuba Pesquisa e Documentação Michela Janaina Albuquerque de Sá
Paula Ferreira da Silva
Casa de Passagem Ana Vasconcelos Jaciara Santos Arruda
Gicélia Domingos C. Souza
Centro de Organização Comunitária Chão de Estrelas Grinauria José Santana dos Santos
Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (CERVAC) Mauricea Santiago da Silva
Conselho dos Moradores do Sítio e Alto do Rosário (COMSAR) Eliane da Luz Silva
Em Cena Arte e Cidadania Mieja Chang
Fundação Fé e Alegria – Brasil Pernambuco Geize Jeane Gomes de Araújo
Marianna Accioly da Rocha
Grupo Ruas e Praças Solange Maria da Silva Bezerra
Instituto Maria Madalena Oliveira Cavalcante (IMMOC) Bruno dos Santos Barbosa
Zolane Lopes Farias
Movimento de Apoio aos Meninos de Rua (MAMER) Ana Karina Maciel de Lima
Movimento de Assistência e Inclusão Social – Consultoria Social Erika Regina Correia

Fernanda Correia Ribeiro de Souza

O Processo Formativo: a formação de educadores como objeto da sistematização

A formação consistiu em seis oficinas presenciais teórico-práticas, combinadas ao apoio e acompanhamento on-line e individual das produções dos participantes nos períodos entre oficinas. Considerando um grupo formado prioritariamente por coordenadores pedagógicos, a formação de educadores foi o tema escolhido para orientar a prática da reflexão e sistematização das experiências do grupo. Os participantes se engajaram na reflexão sobre o papel do coordenador pedagógico em organizações não governamentais; na contextualização da formação em cada organização; no ordenamento, ou mesmo construção, de um projeto de formação permanente de educadores; na construção de pautas de observação; no registro e reflexão de suas etapas de execução; no levantamento de aprendizagens; e, por fim, na construção de sínteses sobre o caminho percorrido e de propostas para a socialização da experiência.

A sistematização de experiências foi tratada como um dispositivo de registro, síntese e reflexão a serviço da formação, já que propicia um processo permanente e inter-relacionado de produção de conhecimento a partir das experiências concretas dos atores sociais.

Entre os propósitos centrais da sistematização estão: aprimorar a prática, reafirmar a autoria dos profissionais da ação, impulsionar processos formativos e de comprometimento, construir conhecimento para a ação, consolidar teórica e metodologicamente a área social, facilitar a transição entre o conhecimento privado e individual e o conhecimento organizado e socializável, criar condições para potencializar os efeitos da prática social (MEIRELLES, 2012, p. 155).

 As questões  e conteúdos em comum

Além das experiências e reflexões produzidas por cada participante ao longo das oficinas, as questões relativas à formação de educadores (como objeto da sistematização) e às propostas da sistematização (como dispositivo de formação) foram também tratados em uma perspectiva coletiva. Consolidados pela CASA7 e debatidos durante os encontros presenciais, os temas destacados abaixo evidenciam as principais preocupações deste grupo de profissionais no desenvolvimento de uma política institucional de formação continuada de seus educadores. Indicam, portanto, aspectos a serem considerados e aprofundados por aqueles que se dedicam a aprimorar suas práticas educativas.

1. O papel do coordenador pedagógico: dilemas e perspectivas

Que condições são criadas para a reflexão sobre a prática educativa na sua organização? Está presente uma cultura de aprendizagem? Que papel o coordenador pedagógico tem desempenhado na criação destas condições?

 A reflexão inicial dos participantes acerca do papel que desempenham como coordenadores pedagógicos nas organizações, e do papel que gostariam, de desempenhar mostrou:

  • É preciso construir processos de formação continuada de educadores para além do investimento feito hoje, caracterizado, na maioria das vezes, como uma somatória de ações pontuais e sem intencionalidade formativa clara. É preciso colocar na agenda das organizações a reflexão sobre concepções de formação permanente que pressupõem a articulação da proposta formativa aos contextos de trabalho e que tomam a prática como objeto de estudo. A construção deste debate e de uma rotina formativa deveria ser parte integrante do papel do coordenador pedagógico nas organizações sociais, quando eles estão presentes.
  • Em função da variedade de propostas educativas oferecidas ao público-alvo das organizações, são exigidas diferentes expertises. É preciso planejar também formações específicas de acordo com a necessidade de cada tipo de educador.
  • Outro aspecto que pareceu fundamental aos participantes, e parte integrante do papel do coordenador pedagógico, foi a importância da construção do grupo de educadores em cada organização: a consideração quanto às expectativas dos grupos com os quais trabalham; a atenção ao relacionamento interpessoal e à gestão de conflitos.

Também é importante garantir o acompanhamento da equipe de forma sistêmica, valorizando o potencial, as habilidades e competências de cada educador. O coordenador pedagógico também tem um papel a exercer como observador e na escuta, para que possa captar os desafios, as demandas e potencialidades de cada educador de sua equipe. Por fim, cabe ao coordenador pedagógico incentivar os educadores a avançarem em seus estudos, valorizando tanto o saber científico como o saber popular.

Para que estes propósitos se realizem, parece fundamental a construção do papel do coordenador com foco maior no pedagógico. A prática mostra que, em geral, estes profissionais vêm assumindo múltiplas funções, incluindo administrativas e gerenciais, o que pode inviabilizar o engajamento na formação de educadores e no aprimoramento da prática educativa. Além disto, é preciso investir na própria formação (estudos), na pesquisa e na construção metodológica, assim como na criação de tempo/espaço para atividades pedagógicas e reflexivas.


PRODUÇÃO DE PARTICIPANTE DO GRUPO – O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO

O papel do coordenador pedagógico

Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AACA)
Por Daniel José da Silva

Dia um de maio de 2000, foi este o dia, mês e ano em que recebi o convite para integrar a equipe de trabalho da Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente (AACA) por um período de trinta dias, durante as férias de um dos funcionários da instituição.

Para a minha surpresa, passados os trinta dias, recebi o convite para permanecer no projeto devido à necessidade de ter mais uma pessoa no quadro de pessoal. Durante esses 12 anos em que estou na instituição, assumi diversas funções relacionadas a futebol, informática, formação cristã, reforço escolar. Em janeiro de 2007, a coordenação administrativa, juntamente com a coordenadora pedagógica que estava deixando o projeto, escolheram-me para conduzir os trabalhos pedagógicos, esportivos, culturais e formativos da instituição. Aceitei o desafio de coordenar a equipe e as ações do projeto, sentindo-me seguro para tal incumbência pela vivência e experiência adquiridas ao longo dos anos em que me encontrava na instituição e por conhecer cada um dos que estavam ali comigo.

Infelizmente, no atual contexto das organizações da sociedade civil, temos passado por muitas dificuldades no dia-a-dia do trabalho, nas atividades que realizamos, pois ainda nos falta muito para darmos a qualidade necessária ao que fazemos, seja com nossos educandos, ou com nossos educadores e instrutores, devido à falta de recursos didáticos, tecnológicos, materiais, humanos – o que fatalmente implica no recurso financeiro para resolver essas necessidades. Sendo assim, dentro do nosso espaço de trabalho, acabamos acumulando diversas tarefas e ficamos impedidos de voltar a nossa atenção para o que realmente é o nosso compromisso, nossa tarefa real.

Como coordenador pedagógico, tenho desempenhado muitas atividades no projeto que poderiam ser atribuídas a outros profissionais. Para dedicar-me com maior empenho na pesquisa, leituras, cursos, para construir uma pauta formativa para educadores e instrutores da instituição com acompanhamento e orientações. Uma pauta formativa contínua, sistemática, dialógica para podermos refletir sobre as nossas práticas, metodologias e avaliações.

Com a oportunidade de fazer o curso de Fortalecimento Institucional oferecido pelo FICAS e a CASA7, temos refletido sobre a importância de construir uma pauta formativa para nossos formadores e educandos, diferentemente de como vínhamos fazendo até o momento.

O papel do coordenador pedagógico

Aldeias SOS Brasil
Por Manoel Araújo

O coordenador pedagógico vem para ocupar um lugar estratégico dentro de uma instituição que trabalha com educação, pois o olhar dele pode facilitar e direcionar melhor as atividades executadas. Ele não trabalha de forma isolada, deve sempre ouvir e motivar a sua equipe, estar atento às dificuldades, de maneira a buscar as soluções, juntamente com o grupo. Deve também estar sempre em formação, nunca achar que está pronto, pois na dinâmica do dia-a-dia, muitas coisas acontecem no mundo e o que era de um jeito hoje, amanhã pode ir por terra. Por isso é que não só o coordenador, mas todos os educadores devem se atualizar sempre nesse mundo com tantas mudanças.

De repente tudo é colocado nas mãos do coordenador, acha-se que ele pode resolver todos os problemas. Na verdade, os papéis se confundem no decorrer do percurso e o coordenador pode muito bem se perder dentro de um processo, achar que pode tudo e trocar os pés pelas mãos, sabendo que, ao administrar esses conflitos pessoais, pode acabar cometendo erros.


2. A importância da contextualização

Que sentidos estão sendo atribuídos ao processo formativo?

O exercício de construir (em conjunto com os demais educadores das organizações) a linha do tempo com os principais marcos da prática formativa, dando a eles sentido em cada contexto histórico da prática social no Brasil, possibilita a identificação das diferentes concepções de formação contidas no percurso de cada organização participante. É por esta via que os marcos conceituais, bem como as necessidades formativas em cada contexto, podem ser iluminados e aprofundados com o coletivo, de modo a estabelecer os eixos centrais dos projetos de formação atuais.

  • Entre eles, os diferentes coordenadores destacam:
  • Fundação da organização; início das atividades do projeto (formação inicial)
  • Construção metodológica do processo de formação
  • Composição da equipe; ampliação do quadro de funcionários; mudanças de equipe
  • Mudança na gestão da instituição; na coordenação pedagógica
  • Composição do Conselho Pedagógico (institucionalidade)
  • Adoção de um novo olhar sobre o trabalho (exemplo: prevenção)
  • Mudanças na infraestrutura e nos recursos disponíveis
  • Introdução de novas temáticas / novas linguagens / novos projetos (ampliação ou alteração no escopo da formação)
  • Projetos específicos / demandas externas (exemplo: exigência dos financiadores)
  • Avaliação dos educadores
  • Ocupação de espaços de controle social
  • Engajamento em movimentos sociais nacionais
  • Adequação a novos cenários políticos e a novo marco legal
  • Articulação com políticas públicas

PRODUÇÃO DE PARTICIPANTE DO GRUPO – MARCOS DO PROCESSO DE FORMAÇÃO

Contextualização do Grupo Ruas e Praças – 1987

Grupo Ruas e Praças                                             
Por Solange Maria da Silva Bezerra

Cenário de muita violência contra crianças e adolescentes, com atuação muito forte de grupos de extermínio. Inquietos diante deste contexto, um grupo de quatro educadores iniciou um processo de estudo e articulação junto ao Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), em busca de alternativas para combater a violência contra crianças e adolescentes.

Curso de Formação para Educadores

Após a constituição oficial do Grupo Ruas e Praças (1989), os educadores participaram do curso de formação promovido pelo centro de formação do MNMMR, realizado em quatro módulos distribuídos por dois anos. Os temas abordados no curso foram: conhecimento; a sociedade como totalidade; o papel dos movimentos sociais na sociedade; a arte e a cultura como elementos de construção da cidadania; qual o meu projeto político pedagógico; limites x prática educativa; o uso da cola e seus efeitos; o educador social e abordagem de rua.

Ampliação do Trabalho Pedagógico

Criação do Centro Educacional Vida Nova (espaço de acolhida provisória), localizado a 80 km do Recife, na cidade de Caapora (PB). Esse espaço foi resultado da necessidade e do desejo das crianças e adolescentes em terem um lugar onde eles pudessem experimentar uma vida nova longe das ruas, das drogas e da violência. Ocorreram vários estudos e articulações com grupos afins para organização dessa proposta de acolhimento, pois tínhamos clareza de que não queríamos ser simplesmente mais um abrigo e sim um lugar que lhes dessem condições para a construção de um novo projeto de vida.

Integração do Centro da Cidade – 1988

Articulação da sociedade civil organizada e do poder publico na perspectiva de proporcionar o atendimento integral às crianças e adolescentes, buscando a complementaridade das ações. Nesse contexto, um ponto de conflito era a discussão sobre a importância do reconhecimento do saber popular, ou seja, a relação entre teoria e prática, pois havia uma supervalorização do saber teórico em detrimento da prática dos educadores.

Projeto Retome Sua Vida – 1990

Foi um projeto que agregava a sociedade civil e o poder publico no âmbito estadual, que tinha como objetivo articular e fortalecer as diversas experiências nas comunidades, com foco na prevenção voltada para crianças e adolescentes em situação de violência.

Aprovação do Estatuto da Criança e Adolescente (Lei N. 8.069/90) – 1991

Com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, as organizações da sociedade civil ganharam um novo papel diante das políticas públicas, se fazendo necessário um processo de formação para ocupar os espaços dos conselhos de direito. As ONGS estariam na coordenação da formulação de políticas e não mais nas reivindicações. O Ruas e Praças foi uma das organizações que precisou se preparar para esse novo cenário político.

Projeto Malandro Sem Camisinha Não Dá – 1996

Nesse momento, as DST/AIDS se proliferavam e as crianças e adolescentes em situação de rua constituíam um grupo de risco. Diante disso, o centro de formação de educadores do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua realizou uma formação para os educadores que atuavam diretamente com o público de risco.

Articulação com o Poder Público Municipal – 2001

Implementação do trabalho de educação de rua por parte da Secretaria de Assistência Social.

IASC – 2005

Participar da formação em Fortalecimento Institucional / Programa Aliança Interage foi uma oportunidade fundamental para a equipe do Ruas e Praças, pois estava sendo finalizado um projeto de cooperação financeira de mais de dez anos e que garantia todo o programa do Centro Educacional Vida Nova. O processo formativo nos proporcionou um novo olhar frente à sustentabilidade e à mobilização de recursos.

Projeto mobilizar – 2007

Processo de formação que contemplou a mobilização de recursos, o planejamento estratégico e a revisão/atualização do estatuto institucional.


 3. A construção do projeto de formação de educadores

Quais são as expectativas de aprendizagem?

Qual é a minha intencionalidade educativa?

Como uma das primeiras etapas da sistematização da prática formativa nas organizações participantes, o grupo foi convidado a descrever sua prática por meio do ordenamento das ações existentes em forma de um projeto de formação de educadores: contextualização da prática atual; caracterização dos educadores; objetivos e metas; expectativas de aprendizagem; conteúdos da formação; etapas de desenvolvimento; tempo de duração; materiais e recursos necessários; avaliação. Vale notar que, para grande parte do grupo, este momento tratou mais de prospectar uma proposta formativa do que de descrever as ações existentes. Os pontos em comum, ou recorrentes, do conjunto dos projetos estão destacado abaixo e esboçam um retrato das principais necessidades nas ONGs:

Objetivos

A implementação de processos de formação de educadores (inicial, continuada e permanente) foi o objetivo central apontado pelos participantes. Entre os objetivos específicos, destacam-se: a construção de espaços para pesquisas, estudos, reflexão, registro, avaliação, sistematização da prática pedagógica; o fortalecimento e a sistematização da prática educativa; a construção de espaços de troca, o fortalecimento e o alinhamento de conhecimento entre os educadores; a criação de momentos de reflexão e avaliação; o alinhamento, a definição e o planejamento das atribuições relacionadas às atividades dos educadores sociais da organização; a identificação de vulnerabilidades e o desenvolvimento de estratégias de ação para superá-las.

Conteúdos

Os conteúdos destacados pelo grupo enfatizaram o papel do educador (sua identidade profissional), seu papel no acompanhamento e apoio ao trabalho da equipe técnica e da rede socioassistencial; sua importância nas relações interpessoais; e os instrumentos que devem fazer parte de sua prática cotidiana (planejamento, monitoramento e avaliação).

Além do papel do educador, outros conteúdos de formação destacados pelo conjunto dizem respeito aos marcos conceituais: educação e realidade social; concepção de jovens; concepção de competências; desenvolvimento e aprendizagem; processo de ensino e aprendizagem; educação popular / saber popular; educação de rua; relação teoria–prática; ética profissional; ludicidade no desenvolvimento da prática educativa; relações interpessoais; planejamento e visão de futuro. Como conteúdos específicos destacam-se: comunicação, arte, tecnologia, cidadania, drogas (efeitos, tratamento e equipamentos governamentais), assistência social.

Com relação às metodologias e estratégias educativas, também aparecem como conteúdos de formação: questões da didática e estratégias de aprendizagem, instrumentos (pauta de observação em grupos diversificados; registros) e dispositivos de reflexão (sistematização; avaliação).

Por fim, os desafios a serem enfrentados também foram tratados como conteúdos formativos: como desenvolver o trabalho com turmas multisseriadas; como garantir a diversidade e a interdisciplinaridade; como incorporar a tecnologia nas atividades; como formar os educadores voluntários; e como trabalhar com níveis diversos de saberes.

Estratégias gerais

As estratégias delineadas para a formação continuada de educadores envolveram, em síntese:

  • A criação de tempos e espaços para atividades formativas na própria organização (encontros mensais; encontros semanais com duração de 4 horas; reuniões semanais para socialização e acompanhamento; encontros temáticos; trabalhos em grupo para exposição e individual; oficinas com exposição teórica e dinâmicas; convite a especialistas e facilitadores, com o objetivo de compartilhar seus conhecimentos acadêmicos etc.).
  • Práticas e uso de instrumentos de diagnóstico, acompanhamento, observação, registro, reflexão, socialização e avaliação (observações diárias; registro e socialização das atividades; avaliação permanente das atividades; apresentação de relatórios mensais; estudos de caso; pesquisa de perfil de educadores etc.).
  • Participação em cursos e congressos.

Avaliação

Para avaliação dos projetos de formação foram prospectados instrumentos como planejamento e programação das atividades; fichas de frequência; elaboração do material docente (planos de ensino, aulas, fichas); participação dos educadores em eventos acadêmicos; produção de materiais pedagógicos; fichas e sistematização das avaliações dos usuários sobre a prática dos educadores. Os critérios avaliativos enfatizaram o compromisso e o respeito com os alunos; o compromisso na entrega de planejamentos mensais e tarefas; a atuação na sala de aula, buscando novas dinâmicas e criatividade; a assimilação dos conteúdos estudados; a autoavaliação e a avaliação do Coordenador Pedagógico.

Segundo os participantes das Oficinas de Sistematização da Prática Educativa CASA7, um bom projeto de formação de educadores: 

                          • Parte de um diagnóstico (conhecer a organização e o grupo de educadores);
                          • Investe na construção coletiva da proposta;
                          • Alinha expectativas;
                          • Tem clareza das concepções de formação continuada;
                          • Define com propriedade os objetivos e resultados esperados, bem como as prioridades;
                          • Parte das potencialidades existentes;
                          • Tem intencionalidade educativa;
                          • Trata de temas sensíveis à organização;
                          • Inclui sempre avaliação e acompanhamento;
                          • Cria uma cultura de aprendizagem na organização.

PRODUÇÃO DE PARTICIPANTE DO GRUPO – SEQUÊNCIA DIDÁTICA

Sequência didática: como elaborar um Projeto de Formação de Educadores

Em Cena Arte e Cidadania                               
Por Mieja Chang

Objetivo

Elaborar um Projeto de Formação de Educadores a ser apresentado à equipe da Em Cena Arte e Cidadania. Uma vez analisado, discutido e aprovado pelo grupo, a ideia é implementá-lo nos encontros pedagógicos no ano de 2013.

Conteúdos

Projeto de Formação de Educadores

Tempo estimado: 4 tardes

Material necessário: textos norteadores sobre o tema; sala com computador; registros das oficinas anteriores.

Desenvolvimento

Momento 1:

Leia os textos disponíveis e resgate as anotações realizadas do encontro anterior com a CASA7. Observe a sugestão de roteiro para a construção do projeto de formação e inicie a produção escrita das suas ideias. Procure desenvolver os itens com calma, revisitando textos e exemplos quando for necessário. Inicie situando qual o contexto sociocultural da organização, o nome da equipe com suas respectivas funções. Indo um pouco mais além, inicie os objetivos (o que você quer?) e metas (aonde quer chegar?).

Momento 2:

Releia o que já foi produzido. É provável que já vá fazendo algumas correções! O objetivo deste momento é refletir e produzir algo escrito sobre as expectativas de aprendizagem. Lembrando que é tanto para os professores, quanto para os alunos/as. Caso surja dúvida sobre este item, responda à frase: “eu quero que os professores/alunos aprendam a…”. Isso facilitará bastante o seu trabalho! A partir disto, desenvolva as suas expectativas, devendo ter cuidado em relacionar o tripé professor/aluno/conteúdos. Por fim, faça as etapas de desenvolvimento, que correspondem à distribuição dos conteúdos no intervalo de tempo que optar.

Dica: compartilhe com os colegas de equipe o material produzido até o momento. Isso pode te ajudar e acrescentar algo que não tinha pensado!

Momento 3:

A ideia é ir finalizando o projeto. Releia o material produzido e faça uma revisão geral. Observe se está com objetivos e conteúdos claros. Caso tenha recebido sugestões da equipe, observe se há coerência/pertinência em introduzi-las no projeto, não perdendo o foco do trabalho. Responda às questões que ainda faltam: tempo de duração, aplicabilidade e avaliação.

Momento 4:

O Projeto de Formação de Educadores deve estar quase finalizado. O ideal neste momento é que se faça uma revisão geral, alterando algo que não tenha ficado claro, pontuando algumas questões inacabadas, enfim, é o momento de deixá-lo mais coeso.

Avaliação

O Projeto de Formação de Educadores pode ser analisado por um profissional qualificado, que trará informações importantes para aprimorá-lo. Na devolutiva, reflita sobre os comentários enviados, buscando melhorar sempre a sua prática enquanto coordenador pedagógico. Reveja os tópicos do projeto, lembrando sempre que nenhum conhecimento é cristalizado. Nem projetos, nem planejamentos. Sempre é tempo de mudanças e revisitações!

Projeto de Formação Continuada para Educadores 2012

Instituto Maria Madalena Oliveira Cavalcante – IMMOC
Por Zolane Lopes Farias, com a colaboração de Daniel Silva (AACA)

Apresentação

O Instituto Maria Madalena de Oliveira Cavalcante (IMMOC) nasceu da reflexão dos colaboradores da JBR Engenharia Ltda. sobre as questões sociais da contemporaneidade. Na perspectiva de assumir uma responsabilidade social, as ações do Instituto desenvolveram-se dentro de uma filosofia que privilegia um modelo de gestão que defende uma melhor qualidade de vida para a comunidade de seu entorno, como extensão dos princípios vivenciados dentro da empresa. Compreende-se que a Responsabilidade Social Empresarial cabe aos diversos atores e seus respectivos setores, tais como clientes de empresas, parceiros, fornecedores, governos, entidades de classe, ONGs, meios de comunicação e comunidade em geral, pois não é só uma questão de cumprir a legislação, desenvolver bons produtos e gerar lucros. Vai além dessas necessidades, representa um compartilhar com a formação e o exercício da cidadania.

O IMMOC foi fundado em 18 de novembro de 2002, como uma entidade sem fins lucrativos que, de modo planejado e estruturado, realiza ações cidadãs, visando promover transformações sociais nas comunidades para a melhoria de sua qualidade de vida.

Referenciais Institucionais

  • Missão institucional: Contribuir para a transformação social através do desenvolvimento de adolescentes e jovens.
  • Vocação institucional: Favorecer processos educativos e integração digital com carinho, respeito e vontade de fazer.
  • Sustentabilidade institucional: Vontade de fazer com solidariedade e dedicação, visando à transformação social.
  • Foco institucional (Objetivo Geral): Possibilitar o desenvolvimento de adolescentes e jovens em situação de risco social para a inserção no mundo do trabalho.

Contexto

O IMMOC tem por objetivo contribuir para a transformação social através do desenvolvimento de adolescentes e jovens. Tem como um de seus princípios a disseminação e o estímulo a ações estruturadas de voluntários, de pessoas físicas e jurídicas. O quadro de associados e voluntários é composto por profissionais de diversas áreas de atuação, como administradores, engenheiros, psicólogos, técnicos, entre outros, podendo ser aberto aos interessados que tenham como objetivo o desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens através da assistência social e o desenvolvimento e manutenção da integridade do Instituto. A sua sustentabilidade é obtida por meio de doações financeiras de pessoas físicas e jurídicas, ações voluntárias e pela empresa mantenedora a JBR Engenharia Ltda. Sendo assim, os educadores sociais são todos voluntários de diversas áreas de atuação.

Justificativa

Por trabalhar apenas com voluntários, o IMMOC nunca antes pensou em elaborar uma formação continuada para seus educadores. Os voluntários passavam pelo alinhamento institucional, que abordava o entendimento da causa, ou seja, juventude, educação e o mundo dos negócios. 

Hoje, passando pelo Programa de Fortalecimento Institucional, fomos estimulados a desenvolver ações para possibilitar um alinhamento e um espaço de trocas entre todos os educadores e a instituição, visando melhorar os resultados de nossas práticas educacionais.

Objetivo

Possibilitar um espaço de troca, fortalecimento e alinhamento de conhecimento entre os educadores. 

Objetivos Específicos

  • Possibilitar momentos de reflexão e avaliação.
  • Possibilitar um espaço de pesquisa e trocas de saberes sobre os processos educativos.
  • Construir laços de parceria e despertar a consciência de seus papéis.

Público

Educadores sociais voluntários que atuem na linha de ação da juventude no IMMOC.


4. Os instrumentos metodológicos

A observação, o foco, o olhar

O que é a pedagogia do olhar?

O que olhamos? Nosso olhar confirma ou revela?

Vemos somente a partir dos nossos filtros anteriores, nossas hipóteses, nossos desejos?

De que lugar olhamos?

 Sempre que a proposta formativa está sustentada na ideia da reflexão permanente sobre a prática educativa, tomada como objeto de análise, ganha importância a aprendizagem sobre o olhar e sobre os focos de observação da própria atuação (coordenadores e educadores). A pauta de observação (a ser construída em conjunto com os educadores) foi tomada como um dos instrumentos que ajudam a orientar o olhar observador e analítico sobre a prática.


PRODUÇÃO DE PARTICIPANTES – PAUTA DE OBSERVAÇÃO CONSTRUÍDA PELO GRUPO

 1. O foco no formador / educador

  • Demonstrou conhecer o grupo?
  • Tinha planejamento? Intencionalidade educativa? Prioridades? Pauta de formação?
  • Alinhou as expectativas?
  • Explicitou o referencial teórico utilizado?
  • Que metodologia utilizou? Como abordou /desenvolveu a temática e os conteúdos?
  • Que recursos didáticos foram utilizados?
  • Ambientação: como organizou o espaço e as atividades?
  • Demonstrou sintonia com o conteúdo?
  • Como interagiu com o grupo?
  • Como reagiu frente às dificuldades? E às facilidades?
  • Como estabeleceu a relação? Atitudes, postura, linguagem e gestos?
  • Considerou as dificuldades individuais?
  • Como lidou com divergências?
  • O que ajudou? O que não ajudou?

 2. O foco na dinâmica do grupo

  • Como participaram? Estavam interessados / envolvidos?
  • Como reagiram diante das propostas apresentadas?
  • Participaram das atividades práticas?
  • Como o grupo interagiu? Em que ritmo? Facilidades e dificuldades de trabalhar em grupo?
  • Que papéis foram exercidos?
  • Apareceram momentos de tensão, silêncios etc.?
  • Como o grupo expressou divergências e concordâncias?

3. O foco na aprendizagem individual e/ou coletiva

  • Como reagiram diante dos conteúdos e temas apresentados?
  • O que demonstraram aprender?
  • Mostraram interesse pelos conteúdos tratados?
  • Que dúvidas sobre o conteúdo manifestaram?
  • O que pareceu mais significativo para eles? Por quais aspectos se interessaram? Que temas pareceram mais importantes para eles?
  • Desenvolveram novas competências e habilidades coletivas?
  • Quais as dificuldades em relação à aprendizagem?

Registro

Qual a diferença entre o registro, a documentação, o julgamento?

Exercitar o registro escrito permite tomar a própria prática como objeto de análise, pesquisa e aprendizagem. Mas além de entender o registro como uma narrativa do que aconteceu (um diário pessoal que traz descrições detalhadas sobre o que foi vivenciado em cada atividade educativa), há alguns passos posteriores que podem contribuir para potencializar o uso desse instrumento em processos de formação e na reflexão sobre a prática, por exemplo: comparar diferentes situações, observar regularidades, ver o invisível, além de sempre considerar o planejamento no qual a atividade está inserida. Os participantes do grupo, além de exercitarem a escrita de registros, solicitaram a educadores de suas organizações para que escrevessem registros de suas práticas educativas e depois prepararam devolutivas sobre essas produções.


PRODUÇÃO DE PARTICIPANTES DO GRUPO – REGISTRO DA PRÁTICA EDUCATIVA E DEVOLUTIVA

Registro da prática de educadora social

Centro Brasileiro da Criança e do Adolescente – CBCA Casa de Passagem Ana Vasconcelos
Por Jaciara Arruda e Gicélia Souza

A atividade registrada diz respeito à aplicação da Metodologia Comunitária na comunidade de Paratibe, em Paulista. O objetivo do encontro foi construir e identificar a rede primária e secundária, para que todos pudessem ter uma compreensão de quem são os atores sociais da sua comunidade e como eles, enquanto redes primárias e secundárias, podem interagir para o desenvolvimento comunitário e a parceria com a rede terciária.

A comunidade foi informada uma semana antes do encontro, no qual estiveram presentes em sua maioria mulheres e apenas um homem. A educadora foi calorosamente cumprimentada e cumprimentou a todos os presentes cantando “olá como vai, eu vou bem e vocês vão bem também…”. Todos riram e disseram que estavam bem. Em seguida todos sentaram e a educadora perguntou como tinha sido o fim de semana e se tinham algo que desejavam compartilhar naquele momento. Uma das mulheres presentes disse que estava passando por uma situação desagradável e que precisava compartilhar com os presentes: “eu estou com problemas com minha vizinha, ela anda me soltando pilheria… preciso da ajuda do grupo, pois estou muito triste”. O grupo a escutou com respeito e pediu para que ela explicasse o que estava acontecendo.

Ela relatou: “todas as vezes que eu saio da minha casa, essa moça fica dizendo que fico falando da vida dela e eu não tenho esse hábito de falar da vida dos outros, eu apenas gosto de ficar conversando com minhas vizinhas quando tenho tempo. Ela que é toda desconfiada, não estamos falando dela”.

Ao terminar o relato, uma das mulheres falou: “e porque você está se incomodando com a desconfiança e o julgamento dela? É ela quem paga tuas contas? Ignore, não ligue”. Outra mulher falou: “não fique assim, eu já passei por isso e a maneira que encontrei para superar essa situação foi ignorando os insultos da minha vizinha e ela, então, cansou de me importunar”. Enquanto as mulheres falavam, ela chorava e, aos poucos, foi parando.

Depois perguntei a ela qual o sentimento que estava sentindo naquele momento pela vizinha que a destratou e ela falou: “não estou mais com raiva, entendi agora que estava dando muita atenção a esse acontecimento, me senti muito triste e percebo que existem outras pessoas que gostam de mim”. A educadora social agradeceu por ela ter compartilhado algo que a estava incomodado e ao grupo, por tê-la ouvido e contribuindo para seu alívio.

Em seguida, a educadora social pediu que todos levantassem e foi realizada uma dinâmica – a “dança do faça assim”: cada um fazia um gesto e todos o repetiam, cantando “faça assim… faça assim… faça assim, como é bom fazer… faça assim… faça assim e agora é você”. E o grupo ria e imitava o outro. Foi um momento de descontração e alívio das tensões e interação do grupo.

E assim foi dada continuidade ao objetivo do encontro, com a exibição de um vídeo sobre solidariedade. Durante a exibição do vídeo, todos ficaram atentos e, em seguida, foi aberta uma roda para reflexão. Cada um falou o que entendeu sobre o vídeo e depois relataram que o mesmo pode ser colocado em prática na comunidade. Para uma boa relação na comunidade, é preciso que todos se conheçam e que haja respeito mútuo.

Foram distribuídas folhas de cartolina e canetas hidrocor para que, individualmente, fossem construídas as redes primárias. Depois cada componente apresentou a sua rede primária e, em seguida, foi compartilhado o aprendizado daquele dia por cada um dos componentes.

Após a fala do grupo, foi realizado um lanche coletivo com bastante alegria e descontração. Os componentes do grupo ajudaram a arrumar o lanche e foi confirmado o encontro da próxima semana.

Devolutiva do coordenador pedagógico ao registro feito pela educadora social

Parabéns pelo trabalho realizado e relatado! Continue assim! Gostei muito dos depoimentos apresentados, porém recomendo que seja mais detalhada a metodologia aplicada, em consonância com a missão institucional da Casa de Passagem e com a abordagem realizada nas reuniões e grupos de reflexão com os beneficiários.

A atividade registrada pela educadora social diz respeito à implementação da Metodologia Comunitária, que tem como objetivo o fortalecimento da rede socioassistencial e dos vínculos pessoais e comunitários dos atores sociais presentes na comunidade. As reuniões semanais são realizadas em grupo, quando a minoria ativa desempenha um papel de multiplicador do fortalecimento da rede Primária, Secundária e Terciária. A Rede Primária é identificada através de trabalhos em grupo e cada componente mapeia a sua rede individualmente. Esta atividade visa identificar as pessoas que fazem parte da rede individual (família, amigos e conhecidos) de cada um do grupo. A Rede Secundária é identificada em grupo, quando é mapeada a rede socioassistencial da comunidade (PSF, escolas, associações, igrejas creches). A atividade em grupo fortalece a comunidade na busca de resolução das questões sociais identificadas e, consequentemente, fortalece os atores sociais.

A atividade registrada faz parte do planejamento e das atividades cotidianas e de formação institucional com participação em grupos operativos e de estudos. O educador social utiliza em suas atividades a metodologia de Jacques Delore e de Paulo Freire conjuntamente, com participação nas terapias comunitárias sistêmicas. O educador social atua nas comunidades dos municípios de Camaragibe, Olinda, Paulista e Bonança/Moreno, participando das rodas de discussões e diálogos e articulando as minorias ativas nas comunidades.

 PRODUÇÃO DOS PARTICIPANTES – UM BOM REGISTRO

Um bom registro…

é detalhado;

traz a fala dos participantes;

tem a presença do autor do registro;

descreve a intenção do autor, mas sem julgamento;

tem foco no educador e no educando;

tem começo, meio e fim;

explicita como a atividade foi finalizada.


Reflexão

O que a prática revela?

Como transitar do particular para o geral?

A sistematização foi destacada pelo grupo como um instigante processo de “construção e desconstrução”. Aquilo que já era dado como certo foi revisto e aquilo que nunca tinha sido considerado, foi incluído. É deste modo que padrões são revelados, processos internos e externos são integrados, o que permite a experimentação de novos lugares, novas posturas. Refletir sobre a prática possibilita exercitar novos questionamentos e, assim, ser levado a um lugar novo, em que acertos e erros conduzem ao aprendizado. Neste lugar, cada um é autor e, neste sentido, pode ser referência, sempre que se dedicam a criar conceitos mais gerais que possam servir a outras situações, transitando, deste modo, do particular para o geral. 


REFLEXÃO FINAL DO GRUPO – O QUE APRENDEMOS SOBRE O PAPEL DO COORDENADOR PEDAGÓGICO?  QUAIS AS RECOMENDAÇÕES?

Papel e funções do coordenador pedagógico

Na atual conjuntura das organizações, discutir e aprofundar o papel do coordenador pedagógico é importante, especialmente diante do ativismo e das dinâmicas do dia-a-dia, que acabam gerando certa confusão com relação a este papel, com a consequente distorção de sua função. Na prática cotidiana das organizações, em contexto de tanto ativismo, dinamismo, de tantas ações que precisam ser feitas e de tantas demandas a serem enfrentadas, perde-se a clareza sobre o papel do coordenador pedagógico e ele acaba afastando-se do foco pedagógico. Na forma como as instituições estão organizadas, acabam atuando mais como coordenadores de programas (função mais administrativa e burocrática) do que como coordenadores pedagógicos.

Desta forma, é necessário definir o papel do coordenador pedagógico na organização, com as seguintes atribuições: monitoramento, olhar externo, respaldo, orientação, formação continuada de educadores, planejamento, coordenação técnica e pedagógica. Para isso, o coordenador deve estar muito próximo do desenvolvimento das ações, com olhar focado na prática, para ver como as coisas estão acontecendo de fato. Ele vai subsidiar, fundamentar e orientar o trabalho do grupo de educadores. É quem vai fazer o planejamento junto à equipe, monitorando, reunindo sistematicamente. Dentro da atual conjuntura das organizações, é fundamental que se discuta a importância do papel deste profissional que vai coordenar as ações pedagógicas de qualquer projeto, de qualquer programa institucional.

Importa também discutir quem deve assumir o cargo de coordenador pedagógico – que formação, perfil e experiências ele deve ter? Nem sempre quem assume o papel de coordenador pedagógico tem uma formação específica na área (por exemplo, pedagogia). A experiência conta bastante, mas há uma preocupação de que esse profissional tenha uma formação na área, seja superior ou de extensão. Algo que o ajude a compreender esse processo na teoria e na prática. Cabe ressaltar que, quando se fala em formação, não se trata apenas da formação acadêmica. Pode ser um curso, uma pesquisa, um estudo. E que esse processo seja contínuo, com participação em seminários, cursos. Para alguns, o coordenador pedagógico não precisa ter uma profissão específica e sim reunir algumas capacidades para atuar nessa função, por exemplo: que possa elaborar um planejamento junto com a equipe, monitorar e avaliar ações, definir os papéis e funções de cada um da equipe. Para discutir a prática pedagógica, é necessário ter referências que são especificas do campo da educação; todavia, é importante também entender o lugar político de uma organização não governamental.

Construção de uma cultura de aprendizagem na organização

Outro ponto destacado pelo grupo é a necessidade de construir uma cultura de aprendizagem, um processo de formação permanente na organização. Para isso, a incorporação da prática da sistematização permanente pode ser útil.

Desafios a serem enfrentados para a formação permanente de educadores

No contexto atual das organizações, ainda há muita coisa a fazer e lacunas a preencher para que se possa, de fato, contar com um coordenador pedagógico que exerça o seu papel de destaque na formação continuada e permanente da equipe de educadores. Falta uma cultura de aprendizagem que garanta uma reflexão sistemática sobre a prática; falta a implementação de um projeto de formação de educadores; falta alguém que tenha a atribuição específica de cuidar da formação da equipe; falta qualidade do trabalho; falta a formação do formador, ou seja, daquele que está formando e que vai dar continuidade à formação dos educadores, pois embora domine algumas áreas, precisa estar sempre se qualificando. Faltam condições para o coordenador pedagógico focar o seu trabalho no educador, no fazer educativo (em várias organizações, o foco recai mais na gestão, na mobilização de recursos etc.).

Para fazer frente a essa situação, em primeiro lugar os participantes sugerem que se inicie com a realização de um diagnóstico interno da organização: como as atividades formativas vêm sendo realizadas? Quais as demandas para a qualificação da equipe de educadores? O que cada um quer, o que faz e o que pretende fazer no campo da educação (expectativas)? Quais os temas e necessidades de aprendizagem? Um segundo passo seria colocar o tema na pauta da organização, para que todos entendam a importância da formação pedagógica, além de provocar uma discussão sobre o papel do coordenador pedagógico, de acordo com sua identidade e aspectos filosóficos, pedagógicos (como uma “provocação institucional”). Uma estratégia para isso seria aproveitar os momentos de avaliação e planejamento na organização para definir melhor os papéis, inclusive do coordenador pedagógico. Outro passo seria a construção, junto com os educadores, do projeto de formação, contando com o respaldo da instituição. Por fim, é necessário garantir condições de trabalho, pesquisa e autoformação, ou seja, criar uma cultura de aprendizagem na organização.

Uma vez garantida a construção do projeto de formação de educadores, há que se fazer o acompanhamento da implementação desse projeto, com o registro das práticas e a avaliação da equipe que está participando das formações, com um olhar focado no dia-a-dia do trabalho e com vivências junto aos educadores para saber exatamente de que lugar ele está falando – que dificuldades e questões teriam de ser aprimoradas para qualificar a ação.


Síntese

Como fiz o que fiz?

O que faria diferente?

A síntese foi tratada como a construção de passos e procedimentos, ou seja, a construção do caminho metodológico, o que significa contar como um determinado trabalho foi realizado: como o percurso foi seguido, que desafios foram enfrentados, quais as alternativas encontradas e que lições foram aprendidas.

As sínteses a seguir foram elaboradas ao final do processo formativo pelos participantes que já tinham avançado em algumas etapas de seus projetos de formação de educadores. Vale notar que algumas organizações já tinham um projeto de formação delineado e aproveitaram a oportunidade para refletir como estes projetos foram construídos e vêm sendo implementados. Outras ainda não tinham projetos formatados e aproveitaram o momento das oficinas para introduzir internamente a discussão. Aquelas que deram início às etapas de desenvolvimento incluíram alguns registros de práticas educativas como exemplo. É notável como cada participante organiza suas produções, sempre a partir do que faz mais sentido para sua própria prática no momento atual.

As sínteses

A sexta e última etapa das Oficinas de Sistematização previa a elaboração de um produto final em forma de síntese, reunindo o conjunto das produções de cada organização ou participante, a partir da seguinte estrutura: o contexto da organização (grandes marcos dos processos de formação de educadores); o papel do coordenador pedagógico; o projeto de formação de educadores; as etapas de desenvolvimento do projeto, com  registros das práticas educativas; e os conteúdos de aprendizagem.

Apresentamos a seguir as sínteses elaboradas pelos participantes, que refletem o seu engajamento no registro e na reflexão de suas práticas, assim como na elaboração de seus projetos de formação. Compartilhá-los exige comprometimento, confiança e vontade de apoiar outros educadores, socializando questões e aprendizagens.

1. Auçuba Comunicação e Educação

2. Casa de Passagem Ana Vasconcelos

  3. Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (CERVAC)

  4. Em Cena Arte e Cidadania

 5. Fundação Fé e Alegria Brasil - Unidade Pernambuco
[top]
One Response to A Formação dos Educadores em ONGs: o papel do coordenador pedagógico
  1. Ao ver o trabalho pronto, é que senti em mim as palavras ditas tantas vezes por Cristina Meirelles, do quanto é relevante as experiências de cada um e cada uma, o quanto enriquece nosso conhecimento e nossa vida. Parabéns para todos pelo belo trabalho.


[subir página]
Deixe seu comentário